sábado, 17 de outubro de 2009

José Maurício Nunes Garcia & João de Deus de Castro Lobo

Editorial de Domingo                                                                                          





 
    Bem amigos, mais uma semana que finda, mais um ciclo completo, mais um ciclo que se inicia. E assim caminhamos nós, morrendo e renascendo a cada dia. E ainda tem gente cega que desdenha dos ideais espiritualistas, embora sejam, eles mesmos, prova diária de tudo isso.
   Bem, existem várias maneiras de visualizar um mesmo ponto não é? Aliás, não sei de quem é esta frase: Um ponto de vista nada mais é que a vista de um ponto! Sei, entretanto, que ela é verdadeira e contundente, e enseja contradições, o que é muito saudável e bem vindo, afinal, já também disseram que toda unanimidade é burra. Acho que foi o Nelson Rodrigues. Que por sinal, se me permitem a franqueza, nem gosto muito dele, e não gosto não pela sua produção literária, que aliás é muito boa, simplesmente por uma frase que coincidentemente ouvi de si próprio, durante uma entrevista coletiva há anos. Depois eu falo neste assunto. Voltemos ao tema deste editorial, a imortalidade, imortalidade? Não, não estou a falar disso, desculpem, quis dizer renascimentos cíclicos (até diários). E não é a mesma coisa? Não, não é. Depois explico isso também.



   Vixe! agora lembrei-me do Pe. Antonio Vieira, que forçando a barra dum materialismo católico inexistente em si próprio, e muito sabiamente, diga-se de passagem, mantendo-se desta maneira à uma distância segura da fumegante fogueira Inquisitorial, apesar  do que contestam um cem número de críticos imbecilizados, ( e já venho eu novamente com esse ódio crítico aos Críticos)  afirmava que Deus deu ao homem como única opção, a oportunidade de nascer apenas uma vez, uma única vez. Bem ao contrário da capacidade de morrer que, segundo ele, era plural, e vasta. Gozando, um único homem, e durante um único ciclo existencial, de variadas possibilidades de passamento. Assim, nascendo uma única vez, poderia morrer muito mais que uma única vez.  Falecendo destarte, antecipadamente à hora da Morte, e a seu bel prazer, dizia o Padre, o homem assim não temeria a própria Morte, ao contrário, dela rir-se-ia e zombaria, quando com ela se confrontasse.
   Meio confuso tudo isso? Não, não tem nada de confuso, eu é que não me expresso com muita clareza. Porém, para imprimir claridade meridiana nesse aparente emaranhado obscuro de palavras, é o próprio Padre que piedoso nos acode.
   Citava prudentemente o clérigo, sempre que podia, e isso quer dizer freqüentemente, as Escrituras Hebraicas e Grego Cristãs, como fundamento de suas investidas insinuantes e audaciosas, muitas vezes contra o próprio Clero, e não poderia ter citado documentos mais contundentes e eficazes que esses ortodoxos Códices Católicos de autoridade inquestionável, pelo menos para eles mesmos.
   E o fez com mestria, esmero e sabedoria como, quando simplesmente jogou toda autoridade Papal na lata do lixo, afirmando que nem o homem nem as coisas são o que aparentam ser; são na verdade aquilo que outrora foram, e um dia retornarão a ser.
   Justificando essa aparente heresia na própria Bíblia, quando em Gênesis, afirma-se, ter construído Deus o homem, do pó, cita: Memento homo, pulvis es, est in pulveris reverteris. E aqui aproveito para pedir novamente perdão aos latinistas de plantão, mas, já vai longe meu tempo de Seminário e, sequer possuo um frugal dicionário Latino. Portanto, se vilipendiei esta transcendental Língua Mãe nossa, perdão. Mas, voltando ao Padre e à citação: Lembra-te homem, és pó e ao pó retornarás. Afirma, como grande Latinista, que o verbo reverteris significa literalmente, retornar a uma posição anteriormente ocupada, não significa simplesmente ser transformado, não, significa antes, a volta a um estado anterior àquele. E com isso, dando asas a imaginação, afirma o culto Padre que Nada é o que Parece Ser: O Homem não é homem, o Padre não é Padre, o Papa não é Papa. O Papa não é Papa? Não, não é. E dá uma forcinha em sua justificativa, citando novamente a Bíblia, desta vez na ocasião em que Moisés lança seu cajado ao chão e este se transforma em poderosa serpente. Surpreso, mas não assustado, o Faraó recruta seus magos e ordena-lhes que obrem o mesmo milagre. O que faz imediatamente cada um deles, lançando ao chão seus cajados, que se transformam, um por um, em serpentes. Só que, sendo maior o cajado de Moisés, eis que este engole as serpentes dos Magos do Faraó. Nesta hora, o culto e precavido Padre faz com que todos atentem num detalhe muito importante da tradução das Escrituras para o Latim da versão dos Setenta: O Escritor inspirado, diz ele, não disse jamais que a serpente de Moisés devorou as demais, disse antes que, seu cajado é que devorou as serpentes. Dando provas, o próprio autor inspirado, que aquela serpente não era serpente, era, antes, um mero cajado transformado em serpente, e que retornaria (reverteris) a sua situação original de cajado.
   Então, os Padres, os Bispos, os Cardeais e o próprio Papa não são o que pensam ser? Não, conclui sapientemente o grande padre, respaldado na autoridade única da Bíblia: São apenas Pó travestidos de homens e... Memento homo, pulvis es, est in pulveris reverteris. És pó e ao pó retornarás.
   E ainda tem gente que acha que o grande padre era materialista, materialista? Sim, materialista católico como a grande maioria dos clérigos da Inquisição. Nosso querido País está cheio de críticos tantãs, esta é a verdade. O lugar comum é fácil criticar, lê-se uma coisinha aqui, outra acolá, e, pimba: Faz-se um resumosinho abusando-se do “com certeza” do “veja bem” e do “a nível de” e pronto, taí mais um crítico brasileiro!  E quando o alvo da crítica é uma figurinha mais singular, como a do Padre aí acima? Aí complica né? Complica, eu entendo, mas..

   E o mais hilário dessa coisa toda é que não pretendia falar nem de padres nem de críticos, faria apenas uma repostagem duma missa do Padre João de Deus de Castro Lobo que, aliás, aí está. Mas, como uma coisa puxa outra, acabamos aí, na ars muriendi, a Arte de Morrer.
Bem, valeu, afinal hoje é Domingo mesmo e nada melhor do que ler algumas inutilidades inofensivas, só para ver o correr do tempo. Por ultimo, Domingo é mesmo dia de missa, não é?
   Um forte abraço, muita alegria e saúde nesta renovação semanal, sempre sob a assistência das almas superiores que diariamente compadecem-se de nossas dificuldades corriqueiras.










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